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terça-feira, 9 de dezembro de 2014

O que é ser assexual?

Lucy Wallis 
24/01/2012

Goodchild Jenni, de 21 anos de idade, não sente atração sexual.

Mas, em uma sociedade cada vez mais sexualizada, como é que é ser assexual?

"Para mim, significa basicamente que eu não olho para as pessoas e penso 'Humm... sim, eu faria sexo com você'. Isso simplesmente não acontece", diz Jenni.

Estudante em Oxford, no Reino Unido, Jenni é uma dentre o 1% estimado de pessoas que se identificam como assexuais.

"As pessoas dizem 'Bem, se você não experimentou, então como você sabe?'," conta Jenni.

"Bem, se você é hétero, você já tentou fazer sexo com alguém do mesmo sexo que você? Então como você sabe que não iria gostar? Você só sabe que não está interessado nisso, e você está não está interessado nisto independentemente de ter experimentado ou não," contra-ataca ela.

Orientação assexual

A assexualidade é descrita como uma orientação, ao contrário do celibato, que é uma escolha.

A Rede de Educação e Visibilidade Assexuada (AVEN), o principal centro on-line para a comunidade assexual, salienta que as necessidades emocionais variam amplamente na comunidade assexuada, assim como acontece na comunidade "sexual".

Há uma diferença, por exemplo, entre assexuais românticos e assexuais não-românticos, diz o sociólogo Mark Carrigan, da Universidade de Warwick.

Romântico ou não-romântico?

"[Assexuais não-românticos] não têm nenhuma atração romântica, portanto, em muitos casos, eles não querem ser tocados, eles não querem qualquer intimidade física," diz Carrigan.

"[Assexuais românticos] não sentem atração sexual, mas eles sentem atração romântica. Então, eles vão olhar para alguém e não vão responder sexualmente a ele, mas podem querer se aproximar, para saber mais sobre a pessoa, para compartilhar coisas com ela," explica.

Jenni é hetero-romântica e, apesar de não ter nenhum interesse em sexo, é atraída pelas pessoas, e está em uma relação com Tim, de 22 anos de idade.

Tim, no entanto, não é assexuado.

"Um monte de gente realmente pergunta se eu estou sendo egoísta mantendo-o em um relacionamento no qual ele não vai conseguir nada que ele quer, se ele não deveria ir e encontrar alguém como ele, mas ele parece bem feliz, então eu digo que eu deixo isso com ele," diz Jenni.

Tim está gostando de passar o tempo com Jenni, e conhecê-la, enfocando os aspectos românticos de seu relacionamento.

"A primeira vez que Jenni mencionou na conversa que ela era assexuada, meu primeiro pensamento foi que isso era meio estranho," conta Tim. "Mas então eu sabia o suficiente para não fazer suposições sobre o que aquilo significava."

Obsessão por sexo

"Eu nunca fui obcecado por sexo. Eu nunca fui de ter que sair à noite e ter que encontrar alguém para fazer sexo, porque é isso que as pessoas fazem ... por isso não estou nem um pouco preocupado com isso," completa Tim.

Mas o relacionamento de Jenni com Tim tem um lado físico, já que eles se afagam e se beijam para expressar seu afeto um pelo outro.

O Dr. Carrigan sugere que a falta de pesquisa científica sobre a assexualidade está ligada com o fato de que não havia realmente uma comunidade assexuada até o lançamento da AVEN.

"Até que houvesse pessoas que se definissem como assexuadas, o que realmente não aconteceu até 2001, não havia realmente um objeto de estudo", diz ele.

O que é assexualidade?

Os assexuais não sentem atração sexual.

Algumas pessoas descrevem a percepção de que eram assexuadas como uma espécie de "voltar para casa", ou, finalmente, compreender quem realmente eram.

Não se sabe se a assexualidade é algo que uma pessoa apresenta para toda a sua vida ou por um período de tempo.

Para vários assexuais, sexo e romance são coisas separadas. Alguns assexuais têm amizades muito próximas, embora alguns tenham relacionamentos românticos, mas não relacionamentos sexuais.

Para os assexuais que experimentam atração romântica, alguns se identificam como assexuais hetero, gay ou lésbicas.


Disponível em http://www.diariodasaude.com.br/news.php?article=assexual&id=7365. Acesso em 08 dez 2014.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Gays sofrem pressão para mudar de sexo e escapar da pena de morte no Irã

Ali Hamedani
06 novembro 2014

Criado no Irã, Donya manteve seu cabelo raspado ou curto e usava bonés em vez de lenços. Chegou a visitar um médico para tentar interromper sua menstruação.

"Eu era muito jovem e realmente não me entendia", diz. "Pensei que se pudesse parar minha menstruação, ficaria mais masculina".

Se policiais pedissem sua identidade e notassem que ela era mulher, diz, iriam censurar-lhe: "Por que você está assim? Vá mudar seu sexo".

Esta tornou-se sua ambição. "Eu estava sob tanta pressão que queria mudar meu sexo o mais rápido possível", diz.

Por sete anos, Donya submeteu-se a um tratamento hormonal que lhe engrossou a voz e lhe fez crescer pelos no rosto.

Mas quando os médicos propuseram a cirurgia, ela conversou com amigos que haviam se submetido à operação e tinham enfrentado "muitos problemas". Começou a se questionar se essa era a melhor opção para ela.

"Eu não tinha acesso fácil à internet. Muitos sites são bloqueados. Comecei a pesquisar com a ajuda de alguns amigos que estavam na Suécia e na Noruega", conta.

"Comecei a me conhecer melhor... Eu aceitei que era lésbica e estava feliz com isso".

Mas viver no Irã como homem ou mulher abertamente gay é impossível. Donya, agora com 33 anos, fugiu para a Turquia com seu filho de um breve casamento, e depois para o Canadá, onde recebeu asilo.

Não é uma política oficial do governo iraniano forçar homens ou mulheres homossexuais a mudarem de sexo, mas a pressão pode ser intensa.

Em 1980, o fundador da República Islâmica, o aiatolá Khomeini, emitiu uma fatwa - uma legislação islâmica - permitindo a cirurgia de mudança de sexo. Aparentemente, após ser convencido em um encontro com uma mulher que disse estar presa no corpo de um homem.

'Doentes'

Shabnam - nome fictício - é psicóloga em uma clínica estatal do Irã e diz que alguns gays acabam sendo forçados a fazer a cirurgia. Médicos são orientados a dizer a homens e mulheres gays que eles estão "doentes" e precisam de tratamento. Pacientes gays são encaminhados a clérigos para que sua fé seja fortalecida.

As autoridades "não sabem a diferença entre identidade e sexualidade", explica Shabnam.

Não há informações confiáveis sobre o número de operações de mudança de sexo realizadas no Irã. Khabaronline, uma agência de notícias alinhada com o governo, disse que os números subiram de 170 em 2006 para 370 em 2010. Mas um médico de um hospital iraniano disse à BBC que só ele realiza mais de 200 dessas operações todos os anos

Em outros países, mudar a sexualidade de uma pessoa é um processo complexo, que envolve psicoterapia, tratamento hormonal e, algumas vezes, grandes operações - durando anos.

Nem sempre é o caso no Irã.

"Eles (as autoridades) mostram o quão fácil pode ser", diz Shabnam. "Prometem te dar documentos legais e, mesmo antes da cirurgia, permissão para andar na rua vestindo o que quiser. Prometem te conceder um empréstimo para pagar a cirurgia", exemplifica.

Os defensores destas políticas oficiais salientam o lado positivo das medidas, argumentam que os transexuais iranianos recebem ajuda para ter uma vida decente e que gozam de mais liberdade do que em muitos outros países.

Mas a preocupação é que a cirurgia de mudança de sexo esteja sendo oferecida para pessoas que não são transexuais - e sim homossexuais.

"Está ocorrendo uma violação de direitos humanos", acredita Shabnam. "O que me deixa triste é que as organizações que deveriam ter um propósito humanitário e terapêutico podem estejam do lado do governo ao invés de olhar para o ponto de vista das pessoas."

Ovelha negra

Psicólogos sugeriram uma mudança de sexo para Soheil, um jovem gay iraniano de 21 anos. A família exerceu grande pressão para que ele concordasse com a operação.

"Meu pai veio me visitar em Teerã com dois parentes", diz ele. "Eles fizeram uma reunião para decidir o que fazer sobre mim. Disseram: 'Ou você muda seu sexo ou vamos te matar. Não deixaremos que você viva nessa família'"

Soheil foi mantido em casa, na cidade portuária de Bandar Abbas, sob vigilância da família. Um dia antes da operação, conseguiu escapar com a ajuda de amigos. Eles lhe deram um bilhete de avião e o jovem voou para a Turquia.

O país, que não requer vistos de cidadãos iranianos, é muitas vezes o primeiro destino de quem foge. De lá, eles muitas vezes pedem asilo em um terceiro país da Europa ou América do Norte. A espera pode levar anos e, mesmo na Turquia, eles são alvo de preconceito e discriminação, especialmente em pequenas cidades socialmente conservadoras.

Arsham Parsi, que cruzou a fronteira do Irã para a Turquia de trem em 2005, vive na cidade de Kayseri, na região central do país. Ele foi espancado e teve tratamento hospitalar para deslocamento de ombro negado simplesmente por ser gay. Depois disso, não saiu de casa por dois meses.

Mais tarde, Parsi se mudou para o Canadá e criou um grupo de apoio para gays iraniano. Ele diz receber centenas de pedidos de ajuda por semana. Já auxiliou cerca de mil pessoas a deixar o Irã nos últimos dez anos.

Alguns fogem para evitar a cirurgia de mudança de sexo, mas outros descobriram que ainda enfrentam preconceito apesar de se submeter ao tratamento. Parsi estima que 45% das pessoas que fizeram a cirurgia não são transexuais, mas gays.

'O que é ser lésbica?'

Eis um exemplo: recentemente, uma mulher o consultou com dúvidas sobre a cirurgia. Ele perguntou se ela era transexual ou lésbica. Ela não sabia responder, porque ninguém nunca havia lhe explicado o que era "ser lésbica".

Marie, de 37 anos, deixou o Irá há cinco meses. Ela cresceu como menino, Iman, mas estava confusa sobre sua sexualidade e foi declarada por um médico iraniano como sendo 98% do sexo feminino. Por isso, acreditou que precisaria mudar de sexo.

A terapia hormonal parecia ter-lhe trazido mudanças positivas, como o crescimento dos seios. "Isso me fez sentir bem", diz. "Eu me senti bonita."

Finalmente, Marie submeteu-se à operação - e veio a sensação de estar "fisicamente danificada".

Ela se casou com um homem, mas a relação terminou rapidamente. Assim como qualquer esperança de que a vida como mulher seria melhor.

"Antes da cirurgia, as pessoas me viam e diziam: 'Ele é tão feminino, ele é tão feminino'", diz Marie.

"Após a operação, sempre que eu queria me sentir como mulher, ou me comportar como mulher, todo mundo dizia: 'Ela se parece com um homem, ela é viril'. (A cirurgia) não ajudou a reduzir os meus problemas. Pelo contrário."

Marie diz que, se "estivesse em uma sociedade livre, gostaria de saber se seria como sou agora e se eu teria mudado meu sexo".

"Não tenho certeza", responde.

"Estou cansada. Cansada de toda a minha vida. Cansada de tudo."


Disponível em http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/11/141105_ira_gays_hb?ocid=socialflow_facebook. Acesso em 06 nov 2014.

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Falsos médicos usam cimento, azeite e supercola em plásticas de bumbum

BBC
29/07/2014 

As cirurgias plásticas para aumento de bumbum estão em alta nos Estados Unidos - mas muitas mulheres estão se submetendo a procedimentos e técnicas ilegais e arriscados para baratear os preços, que podem chegar a milhares de dólares.

Natalie Johnson, de Miami, na Flórida, tomou injeções para aumentar o tamanho dos glúteos. Ela trabalhava de dançarina e acreditava que um traseiro maior lhe traria rendimentos financeiros.

Acabou com cicatrizes e sofreu com as dores. Em sua casa, Natalie mostrou à BBC as fotos de seu corpo com manchas escuras e sinais de decomposição do tecido após o procedimento.

"Eu não precisava, eu era perfeita sem isso. Eu tinha um estilo de vida no qual eu sentia que, se tivesse um traseiro grande, poderia ganhar mais dinheiro", disse.

'Profissional'

A decisão de se submeter ao procedimento veio depois que ela encontrou uma pessoa que alegava ser médico. O homem ofereceu o serviço por um preço que era apenas uma fração do que normalmente é cobrado em clínicas.

Segundo Natalie, O’Neal Morris foi até a casa dela usando um jaleco branco e "parecendo profissional", e injetou uma substância em suas nádegas usando uma seringa.

Inicialmente os resultados foram bons: os glúteos ficaram mais redondos e firmes, perto do objetivo dela, de ter um "corpo com o formato de uma garrafa de Coca-Cola".

Os problemas começaram depois de duas sessões. "Comecei a ficar muito, muito doente. Notei que (o implante) estava começando a desintegrar e meu traseiro ficou enrugado", disse.

A dor que ela ainda enfrenta é tão forte que é difícil para Natalie ficar sentada por muito tempo. Ela precisa da ajuda da filha de nove anos para fazer as tarefas mais básicas.

Em uma ocasião, Natalie foi levada às pressas para o hospital após parar de respirar.

Em janeiro, Morris começou a cumprir pena de um ano de prisão por prática de medicina sem licença.

As mulheres que testemunharam durante o julgamento disseram que Morris, que não é formado, havia injetado uma variedade de substâncias incluindo cimento, supercola e selante de pneu.

O FBI diz que o número de casos de pessoas que se apresentam como médicos falsos para realizar cirurgias desse tipo está em alta, especialmente na Flórida, em Nova York, na Califórnia e no Texas.

Consertando o estrago

Em sua clínica em um subúrbio de Miami, o cirurgião plástico Alberto Gallerani mostra frascos contendo materiais retirados das nádegas de pacientes. Entre eles, azeite e supercola.

Gallerani vem tratando Natalie e centenas de outras mulheres e homens interessados em cirurgia corretiva após procedimentos errôneos.

Ele exibe fotos do que pode dar errado. Elas são fortes demais para serem publicadas. As cicatrizes são horríveis e em alguns casos a pele mudou de cor. Outras imagens mais extremas mostram o corpo totalmente desfigurado.

Gallerani diz que, em muitos casos, os sintomas podem levar vários anos para aparecer.

"O que muitas das pessoas que fazem isso não percebem é que elas estão colocando uma bomba-relógio em seus corpos", compara.

Ele diz receber cem chamadas por semana de pessoas pedindo ajuda.

Cirurgias nas nádegas são cada vez mais comuns nos EUA. Em 2013, o número destes procedimentos dobrou em relação ao ano anterior, de acordo com a Associação Americana de Cirurgiões Plásticos Estéticos.

O custo chega a milhares de dólares, o que explica os motivos de muitas mulheres estarem optando por intervenções não regulamentadas e métodos mais baratos.

Pressão do meio

A cultura hip-hop celebra um traseiro maior, e a pressão sobre as mulheres é enorme, diz Tee Ali, um agente de artistas em Londres.

Sua cliente e amiga, Claudia Aderotimi, de 20 anos, morreu em 2011, depois de voar de Londres para a Filadélfia para receber injeções de uma mulher que conheceu na internet.

Os médicos acreditam que as próteses de silicone ilegais se espalharam por seus órgãos, matando-a. A pessoa acusada de realizar o procedimento deve ser julgada no ano que vem.

Ali diz que Claudia acreditava que ter nádegas maiores a ajudaria a ter sucesso na indústria da música.

"Quando as meninas saem e uma delas tem um bumbum grande, ela recebe toda a atenção. Ela vai ter tudo, elevadores exclusivos, bebidas gratuitas", diz ele.

"Todo mundo sabe, as meninas com bumbuns maiores recebem mais atenção, grandes ofertas de trabalho e demanda maior".

Tragicamente, Claudia não está viva para alertar outras pessoas sobre os perigos de procedimentos ilegais. Mas Natalie acredita que através de sua história, outras mulheres podem ser salvas.

"Fique com o que Deus lhe deu", diz. "Eu digo a garotas: se não está quebrado não conserte. Você é linda do jeito que você é."


Disponível em http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2014/07/falsos-medicos-usam-cimento-azeite-e-supercola-em-plasticas-de-bumbum.html?utm_source=facebook&utm_medium=social&utm_campaign=g1. Acesso em 30 ago 2014.