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sábado, 22 de março de 2014

Não, isso não é coisa pra homem: masculinidades e os processos de inclusão/exclusão em uma escola da Baixada Fluminense–RJ

Leandro Teofilo de Brito
Universidade Estadual do Rio de Janeiro
José Guilherme de Oliveira Freitas
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Mônica Pereira dos Santos
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Revista Latino-americana de Geografia e Gênero
Ponta Grossa, v. 5, n. 2, p. 114 - 125, ago. / dez. 2014

Resumo: Esta pesquisa, de inspiração etnográfica, tem por objetivo compreender de que modo os processos de inclusão/exclusão se fazem presentes nas construções de masculinidades de alunos de turmas do ensino fundamental, em uma escola pública municipal de Nova Iguaçu, região da Baixada Fluminense, estado do Rio de Janeiro. A partir da análise dos dados encontrados no campo de pesquisa, constatamos que a modificação ou a construção de novas culturas de inclusão relacionadas às questões de gênero no espaço escolar, em especial ao reconhecimento de variadas e múltiplas formas de masculinidades, que se diferenciem de – e contestem - sua forma hegemônica, mostra-se como o principal fator de mudança e de combate aos processos de exclusões, influenciando políticas e práticas escolares na busca incansável e incessante pelo movimento da inclusão no contexto educacional.



sábado, 8 de fevereiro de 2014

A construção do masculino: dominação das mulheres e homofobia

Daniel Welzer-Lang
Estudos Feministas
Ano 9 - 2º Semestre - 2/2001

Resumo: A partir de definições de homofobia e de heterossexismo, este artigo explora a profundidade heurística das relações sociais de sexo transversais ao conjunto de pessoas e grupos de gênero, no interior de um quadro teórico que rompe com definições naturalistas e/ ou essencialistas dos homens. O texto analisa os esquemas, o habitus, o ideal viril, homofóbico e heterossexual que constroem e fortalecem a identidade e a dominação masculina. Para desenvolver este argumento, o autor faz uma vasta revisão bibliográfica da literatura feminista francesa contemporânea.





sábado, 11 de janeiro de 2014

A constituição da identidade masculina: alguns pontos para discussão

Maria Juracy Toneli Siqueira
Departamento de Psicologia
Universidade Federal de Santa Catarina
Psicol. USP vol. 8 n. 1 São Paulo  1997

Resumo: Através da apresentação de alguns dados de um estudo de caso de uma família de classe subalterna urbana e suas famílias de origem, este artigo pretende discutir os elementos que contribuem para a constituição da identidade de gênero, em especial a masculina. Esta família foi escolhida por apresentar, ao menos temporariamente, uma inversão na divisão sexual do trabalho: o marido, desempregado, ocupava-se da lida doméstica e do cuidado dos filhos, enquanto a esposa, através de seu trabalho extra-doméstico, era responsável pela manutenção do grupo. A abordagem sócio-histórica nos ajuda a compreender a constituição do sujeito nas e pelas relações sociais. De uma maneira análoga, utilizamos esta abordagem para discutir a constituição da masculinidade e da feminilidade.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

As discussões sobre gênero e diversidade sexual em livros didáticos do ensino fundamental II

Marcos Lopes de Souza; Beatriz Rodrigues Lino dos Santos
IX Congreso Internacional sobre Investigación en Didáctica de las Ciencias
Girona, 9-12 de septiembre de 2013

Resumo: Este trabalho objetivou analisar as questões de gênero e diversidade sexual em livros didáticos de Ciências utilizados em escolas públicas de ensino fundamental (6° ao 9° ano) da cidade de Jequié-Bahia-Brasil. Foram avaliadas cinco coleções didáticas, cada uma com quatro volumes. Apenas uma coleção se dedicou à discussão conceitual dos papéis de gênero e a influência sociocultural na construção e desconstrução dos padrões de feminilidade e masculinidade. Ao analisar as imagens dos compêndios constatou-se a presença maior de homens em relação à de mulheres. Em geral, as imagens dos homens foram associadas à demonstração de força física e envolvendo movimento, já das mulheres relacionadas à fala, ao educar e à demonstração de carinho. Nenhum dos livros analisados apresentou outras expressões de desejo, prazer sexual ou sentimento que escapassem da heterossexualidade.



domingo, 24 de novembro de 2013

Pesquisa praticamente elimina necessidade de 'símbolo' masculino na reprodução

BBC BRASIL
22 de novembro, 2013

Eles conseguiram condensar todas as informações genéticas normalmente encontradas em um cromossomo Y de um camundongo em apenas dois genes.

O estudo, publicado pela revista científica Science, mostrou que os camundongos modificados ainda eram capazes de se reproduzir, apesar de necessitarem técnicas avançadas de reprodução assistida.

Os pesquisadores afirmam que os resultados do estudo podem um dia ajudar homens inférteis por conta de um cromossomo Y danificado.

O DNA, que contém o código genético do indivíduo, está condensado em cromossomos. Na maioria dos mamíferos, incluindo os humanos, um par de cromossomos funciona como cromossomo sexual.

Se o feto recebe um cromossomo X e um Y dos pais, será do sexo masculino, mas se receber dois cromossomos X será do sexo feminino.

"O cromossomo Y é um símbolo da masculinidade", comentou à BBC a coordenadora da pesquisa, Monika Ward.

Espermatozoides rudimentares

Nos camundongos, o cromossomo Y normalmente contém 14 genes distintos, com alguns deles presentes em até uma centena de cópias.

A equipe da Universidade do Havaí mostrou que os camundongos geneticamente modificados com um cromossomo Y que consistia de apenas dois genes poderiam se desenvolver normalmente e poderiam até mesmo gerar filhotes próprios.

"Esses camundongos são normalmente inférteis, mas nós mostramos que é possível gerar descendentes viáveis quando o cromossomo Y está limitado a apenas dois genes usando a reprodução assistida", disse Ward.

Os camundongos somente produziriam espermatozoides rudimentares. Mas eles poderiam gerar descendentes com uma forma avançada de reprodução assistida, chamada injeção de espermátide redonda, que envolve injetar informações genéticas do espermatozoide rudimentar em um óvulo.

Os filhotes resultantes eram saudáveis e tiveram um tempo de vida normal.

Esperança

Os dois genes necessários para a reprodução eram o Sry, que inicia o processo de produção de um macho quando o embrião se desenvolve, e Eif2s3y, envolvido nos primeiros passos da produção de espermatozoides.

Ward argumenta, porém, que "pode ser possível eliminar o cromossomo Y" se o papel desses genes puder ser reproduzido de uma forma diferente, mas observa que um mundo sem a existência de homens seria "loucura" e "ficção científica".

"Mas no nível prático isso mostra que, após a eliminação de grandes porções do cromossomo Y, ainda é possível se reproduzir, o que potencialmente dá esperança aos homens com essas falhas no cromossomo", afirma.
Os genes descartados são provavelmente envolvidos na produção de espermatozoides saudáveis.

Os autores dizem que mais estudos são necessários para verificar se as conclusões poderiam ser aplicadas também a seres humanos, já que alguns dos genes não são equivalentes entre as espécies.


Disponível em http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/11/131122_pesquisa_cromossomo_y_rw.shtml. Acesso em 23 nov 2013

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Ecce homo

Jorge Forbes

"Não se fazem mais homens como antigamente”, reclama a velha senhora na soleira de sua porta, ao ver chegar o amigo da sua neta, encostando o carro. Arrumado demais, combinado demais, manso demais, indeciso demais, enfim – ela não quer confessar, mas caraminhola baixinho – o moço lhe parece feminino demais.

A velha senhora tem alguma razão em observar que os homens, hoje, não são feitos da mesma maneira da qual ela estava habituada. Intuitivamente, ela nota – mesmo que não aceite – que a identidade humana é maleável, que muda conforme o tempo, abraçando o relevo da paisagem de sua época.

Estamos assistindo a uma mudança de um período no qual o laço social que era vertical, gerando estruturas piramidais – o que provocava o estabelecimento de relações hierárquicas e padronizadas – passa a uma nova situação, na qual as relações humanas são horizontais e múltiplas, em tudo, muito diferentes dos modelos estáveis anteriores. No que toca à identidade masculina, ela passou de uma inflexibilidade poderosa, coerente com a verticalidade disciplinar do mundo de ontem, para uma participação interativa flexível, exigência do tempo presente. Traduzindo em miúdos: um homem era visto, caricaturado e admirado como alguém forte e firme em suas decisões – sem frescuras, sem dúvidas, sem titubeios – inflexível em sua vontade pétrea, como se elogiava barrocamente. Agora, nesses novos tempos, mais importante que dar ordens é convencer e seduzir; melhor que ser sempre igual, é mostrar-se criativo, respondendo diferentemente, conforme o aspecto de cada situação.

Para as novas exigências, a carapaça do típico macho envelheceu, se despregou do seu corpo, caiu, e ele se vê tão perdido quanto cobra trocando de pele, ou siri que ficou nu e tem medo de ser catado. Reage atordoado procurando novas formas de ser e aparecer que lhe devolvam a segurança perdida; hipertrofia os traços machistas em academias fabricantes de abdomens tanquinhos, ao mesmo tempo em que vai perdendo a vergonha de confessar seu interesse no melhor creme, na cirurgia plástica, na mais atraente e chocante combinação de roupa.

Para as novas exigências, a carapaça do típico macho envelheceu, se despregou do seu corpo, caiu, e ele se vê tão perdido quanto cobra trocando de pele 

Pobres homens, a pós-modernidade não lhes é em nada tranquila. Enquanto as mulheres nadam de braçadas, pois o detalhe, a singularidade, o inusitado – características próprias à horizontalidade despadronizada – são a sua praia, os homens sofrem, se angustiam, por se verem sem a bússola do dever bem definido que lhes orientava tão corretamente e, tanto quanto aquela velha senhora, também desconfiam de sua própria sexualidade. Buscam os mais diversos consolos, alguns bem engraçados e paradoxais, como os grupos do Bolinha: confrarias das mais diversas, mais comuns as de vinho e as de comida, que, sob o manto disfarçador do refinamento do gosto, escondem a mais básica vontade de perguntarem uns para os outros como cada qual está se virando diante dessa verdadeira revolução. Isso, quando não contratam treinamentos supostamente disciplinadores e eficientes de tropas de elite, que tentam loucamente instalar em suas empresas, onde gostam de se travestir em generais incontestados, fazendo que os funcionários incomodados “peçam para sair”, tal como aprenderam naquele filme de sucesso.

Pouco a pouco, ficará claro para a maioria que a masculinidade não se baseia em nenhum grupo de iguais – sejam eles confrarias ou exércitos –, mas, tudo ao contrário, na possibilidade de suportar a expectativa da diferença, aquela representada pelo enigma de uma mulher frente a um homem. De nada vai lhe adiantar querer calá-la – ou calá-lo, o enigma – com alguma resposta pronta do gênero de bolsas ou perfumes de marcas supostamente exclusivas – mas em algo tão singelo, quão difícil: sabendo fazê-la rir, sonhar, se surpreender. Ecce Homo.

Disponível em http://portalcienciaevida.uol.com.br/esps/Edicoes/62/artigo209144-1.asp. Acesso em 25 ago 2013.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Jornada para a masculinidade: ex-transexual conta seu testemunho

Peter Baklinski
3 de novembro de 2011

Walt Heyer era um menininho crescendo na Califórnia em meados da década 1940, interessado em cowboys, carros e violões quando certo dia, a avó dele teve a imaginação estranha de que ele queria ser uma menina. Ela ingenuamente lhe fez um vestido roxo de baile, com fita de enfeite, que ele costumava usar quando a visitava.

De acordo com Walt, usar aquele vestido roxo com fita de enfeite desencadeou algo que o colocou numa longa trajetória de 35 anos que o levou a um vale escuro de “tormento, desilusão, mágoas e tristezas”. Sua confusão com sua identidade sexual o levou ao alcoolismo, vício de drogas e tentativa de suicídio.

No fim, Walt recorreria à “cirurgia de mudança de sexo” com vaginoplastia para fazê-lo se parecer como uma mulher, algo que ele veio a lamentar profundamente e que ele agora aconselha indivíduos com confusão sexual a evitar. “Ele (Deus) havia me criado como homem, do jeito que eu era, e nenhuma faca iria jamais mudar isso”, Walt disse para LifeSiteNews.com numa recente entrevista.

Envergonhado de ser homem

Em seu livro de 2006, “Trading my Sorrows” (Negociando minhas Tristezas), Walt relata que o vestido roxo foi apenas a primeira de muitas influências em sua vida que fizeram com que ele sentisse vergonha de ser homem. Houve o abuso sexual que ele sofreu nas mãos de seu tio que ele diz que fez com que ele sentisse vergonha de seus órgãos sexuais. Havia a austera disciplina de seu pai — praticamente indistinguível de abuso físico, diz ele — que fez com que ele se sentisse incapaz de ser o menino que seu pai queria que ele fosse.

Walt se lembra de nunca se sentir bem o suficiente para seus pais, nunca conseguir agradar a eles e nunca receber os elogios que ele muito desejava.

“O que eu desesperadamente queria era elogios dos meus pais pelas coisas que eu fazia muito bem, e encontrar meu próprio lugar ideal onde eu pudesse me expressar, desenvolver meus talentos e fazer algo de que eu gostasse”, explicou Walt em seu livro.

O menininho que não tinha nenhuma autoestima começou a desprezar a si e a seu corpo. Walt começou a se consolar se vestindo como menina e guardando esse segredo de seus pais. Vestir-se como uma menina se tornou seu esconderijo onde ele se sentia a salvo da disciplina e conflitos dolorosos que seu pai e mãe lhe davam.

A mulher tirana interior

Quando passou pela adolescência, Walt diz que a menina que estava dentro de sua cabeça foi ficando mais forte e exigia mais de seu tempo. Apesar do fato de que Walt adorava carros que chamavam a atenção e namorou mocinhas atraentes no colegial, não importava quanto ele se esforçasse, ele não conseguia expulsar a obsessão de se tornar uma mulher. Depois da escola secundária, Walt saiu da casa de seus pais e foi morar em sua própria casa, de modo que ele pudesse usar roupas de mulher na privacidade de seu próprio lar. Nessa altura, ele havia amontoado muitas roupas femininas, mas ainda sentia uma vergonha profunda de seu hábito secreto.

Walt acabou se casando, ficou rico e a partir de todas as aparências exteriores, estava vivendo o sonho americano. Ele continuava suas contínuas escapadas para o mundo de seu segredo de mulher.

Walt diz que estava vivendo três vidas diferentes de “homem de negócios bem-sucedido e beberrão, o quadro perfeito de um pai e marido amoroso e um travesti mulherzinha”. Contudo, por dentro, Walt estava experimentando desastre e desilusão. Tudo na vida dele começou a desmoronar.

Ele recorreu ao álcool como um mecanismo para lidar com seus problemas, mas isso só aumentou seu desejo de se tornar uma mulher. Ele diz que permitiu que a menina que estava dentro de sua cabeça se expressasse mais e mais à medida que ele desesperadamente tentava agarrar momentos de alívio do furioso mar de sofrimento e tristeza que estava sua vida.

No fim, Walt colocou todas as suas esperanças na cirurgia de sexo como a solução que faria seu sofrimento desaparecer permanentemente.

A cirurgia

Primeiro, vieram os grandes peitos, implantados pela cirurgia plástica. Então, veio o procedimento que Walt mais lamenta, a transformação cirúrgica de seu órgão reprodutor masculino para a aparência de um órgão reprodutor feminino.

Walt havia esperado que o procedimento aliviasse sua “debilitante angústia psicológica” e fizesse cessar, uma vez por todas, o conflito que o havia atormentado desde sua infância. Mas para seu desânimo e grande tristeza, rearranjar seus órgãos sexuais e mudar sua aparência não efetuou a mudança correspondente em seu interior.

Depois da cirurgia, a mente de Walt se tornou um campo de batalha de pensamentos e desejos conflitantes que ele só poderia descrever como “agravantes, desoladores, deprimentes, contraditórios, distorcidos e imprevisíveis”.

Depois da cirurgia, cada dia que passava deixava mais claro para Walt que ele havia cometido um “erro imenso”. Seu vício à cocaína e ao álcool, numa tentativa de entorpecer o sofrimento emocional, só aumentou seu tormento, depressão e solidão.

Walt agora sabia que a faca do cirurgião e a amputação consequente não o haviam transformado de homem para mulher. Ele percebeu que a cirurgia era uma “fraude completa”. Ele sentia que não tinha escolha, senão viver uma vida como uma mulher cirúrgica, um “impostor”.

Tentativa de suicídio

Nesse ponto, ele chegou ao fundo do poço. A cirurgia havia destruído a identidade de Walt, sua família, seu círculo social e sua carreira. Ele estava sentindo que nada mais lhe restava, a não ser morrer. Walt, que estava se passando pelo nome de Laura Jensen, tentou atirar-se de cima de um prédio, mas foi impedido por um transeunte.

Sem ter onde morar e sem um centavo no bolso, o arruinado “transexual” teria terminado vivendo na rua se um bom samaritano não tivesse lhe dado um lugar para dormir numa garagem. Esse novo amigo incentivou Walt a frequentar as reuniões dos Alcoólatras Anônimos onde ele percebeu que precisava se conectar a uma “força mais elevada” se quisesse escapar da bagunça em que havia se metido.

Walt começou a compreender mais e mais que ele era verdadeiramente um homem, mas um homem que estava encoberto num “disfarce de mulher”.

“Eu estava muito consciente de que estava agora na lata de lixo da raça humana, uma vida desperdiçada e jogada fora, pervertida por minhas próprias escolhas. O álcool, as drogas e a cirurgia haviam me deixado inútil para qualquer um. Eu havia fracassado de forma desgraçada como o homem que Deus havia me criado para ser”.

Saindo do vale da escuridão

Com a ajuda de alguns amigos cristãos que ele havia descoberto recentemente, Walt começou uma jornada em direção à cura e à descoberta de sua verdadeira identidade como homem. Walt percebeu que a chave para ganhar a batalha que assolava dentro de si era a sobriedade. O lema e constante oração interior dele se tornaram: “Permaneça sóbrio — não importa o que aconteça — permaneça sóbrio”. Ele colocou de lado o álcool e se voltou para Jesus como uma fonte recém-encontrada de força.

Certa vez, durante um tempo de oração com seu psicólogo cristão, Walt diz que sentiu espiritualmente o Senhor, todo vestido de branco, que se aproximou dele com os braços estendidos, abraçou-o completamente e disse: “Agora você está para sempre a salvo comigo”. Foi nesse momento que Walt soube que encontraria a cura e a paz que ele desejava tão intensamente em Jesus.

Walt disse para LifeSiteNews numa entrevista que aqueles que estão passando por lutas com relação à sua identidade como homem ou mulher e acham que a operação de sexo é a solução “precisam ir a um psicólogo ou psiquiatra e iniciar uma terapia e cavar profundo para descobrir o que está provocando esse desejo, pois há alguma questão psicológica ou psiquiátrica obscura que não foi resolvida e que precisa ser investigada — quer seja abuso sexual, quer seja abuso físico ou quer seja uma questão de modelos na vida. Pode levar um ano investigar as questões profundas que estão ocorrendo e então, quando você faz essa investigação, você pode levar a pessoa a um ponto em que ela pode começar a entender seu sexo e começar a aceitar seu sexo e querer viver o sexo que Deus lhe deu”.

Agora, como um homem idoso, Walt crê que se pudesse voltar no tempo e dizer algumas palavras significativas para si como um homem mais jovem, ele orientaria o homem mais jovem a evitar a cirurgia de sexo, e descobrir a causa principal por trás do desejo pela cirurgia. 

Walt acredita que sua vida dá testemunho do poder da esperança, que nunca devemos desistir de alguém, não importa quantas vezes ele ou ela falhe ou quantas reviravoltas haja no caminho para a recuperação. Acima de tudo o mais, diz Walt, nunca devemos “subestimar o poder curador da oração e amor nas mãos do Senhor”.


Disponível em <http://noticiasprofamilia.blogspot.com.br/2011/11/jornada-para-masculinidade-ex.html>. Acesso em 20 ago 2012.

domingo, 25 de novembro de 2012

Sexualidade e experiências trans: do hospital à alcova

Berenice Bento
Ciência & Saúde Coletiva, 17(10):2655-2664, 2012

Resumo: Depois dos estudos das masculinidades, não é possível pensar a produção das identidades de gênero sem referenciá-las ao caráter relacional. Esta mudança deveu-se à incorporação da perspectiva relacional nesse campo de estudos e à crítica ao conceito de gênero assentado em uma suposta natureza feminina e masculina para construir as interpretações sobre o lugar dos corpos da ordem de gênero. Os objetivos desse artigo são: 1) apontar como um determinado conceito de gênero pode visibilizar múltiplas expressões de gênero, a exemplo das identidades trans (transexuais, travestis, cross dress, drag queen, drag king, transgêneros) ou invisibilizá-las e contribuir para sua patologização. O segundo objetivo será apresentar narrativas de homens trans e de mulheres trans, que nos contarão suas vivências sexuais. Os saberes médicos-psi advogam a inexistência de sexualidade em seus corpos, sendo este um dos indicadores para produção do diagnóstico de transexualidade. Tentarei argumentar que a base teórica que sustenta a patologização das identidades trans e a afirmação que as pessoas trans são assexuadas tem como fundamento uma concepção que atrela e condiciona as identidades de gênero às estruturas biológicas.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Militantes do 'masculinismo' dizem que é hora de defender direitos dos homens

Tom de Castella
7 de maio, 2012

Há décadas, grupos feministas fazem campanha por mais direitos para as mulheres. Como resultado, a discriminação contra a mulher vem sendo rigorosamente questionada - ao menos em países ocidentais.

Mas agora, um número cada vez maior de ativistas argumenta que os homens não desfrutam desse tipo de proteção.

Muitos deles dizem também que a mídia permite que mulheres transformem homens em objetos e os ridicularizem de uma forma que seria impensável se os papéis fossem invertidos.

Guarda dos Filhos

Entre os defensores dessas ideias está o professor de filosofia David Bernata, da Universidade da Cidade do Cabo, na África do Sul.

No polêmico The Second Sexism (O Segundo Sexismo, em tradução livre), Bernata argumenta que, em todo o mundo, homens correm mais riscos de serem forçados a fazer serviço militar, serem alvo de violência, perderem a guarda de seus filhos e cometerem suicídio.

As leis que regulam os direitos sobre a guarda dos filhos são talvez o alvo mais conhecido das atividades dos militantes pelos direitos dos homens.

Na Grã-Bretanha, imagens de homens divorciados vestidos de super-heróis escalando prédios em Londres foram destaque na mídia em anos recentes.

"Quando o homem é o principal responsável por cuidar das crianças, suas chances de obter a guarda dos filhos são menores do que quando a mulher é a principal responsável", diz Bernata.

"Mesmo quando o caso (pedido de custódia pelo homem) não é contestado pela mãe, ele ainda tem menos chances de obter a guarda do que quando o pedido da mulher não é contestado."

Educação

Os aticistas afirmam ainda que a educação é mais uma área onde os homens estão ficando para trás.

Em 2009, exames feitos pelo Programme for International Student Assessment, um programa internacional de avaliação de estudantes, revelaram que, em todos os países industrializados, os homens estão em média um ano atrás das mulheres em alfabetização.

O levantamento também concluiu que a maioria dos estudantes em cursos de graduação nas universidades hoje é composta por mulheres, segundo Bernata.

"Quando as mulheres são pouco representadas entre presidentes de companhias, isso é considerado discriminação. Mas quando meninos ficam para trás na escola, quando 90% das pessoas em prisões são homens, ninguém pergunta se os homens estariam sofrendo discriminação."

"Se quisermos alcançar a igualdade entre os sexos, a discriminação contra os homens tem de ser levada tão a sério quanto a discriminação contra a mulher", argumenta o filósofo.

Em países desenvolvidos como a Grã-Bretanha, a igualdade de salários é o barômetro. Segundo o Instituto Nacional de Estatísticas do país, a discrepância salarial entre os sexos ainda é bastante pronunciada: advogadas ganham em média US$ 12 mil (R$ 23 mil) a menos do que advogados, presidentes de empresas ganham US$ 22 mil a menos do que seus equivalentes do sexo masculino e médicas ganham US$ 14 mil a menos do que médicos.

Mas esse quadro começa a mudar. No ano passado, a organização que controla admissões de estudantes em universidades britânicas concluiu que mulheres com idades entre 22 e 29 anos ultrapassaram os homens em salários pela primeira vez.

E uma pesquisa feita pelo Chartered Management Institute concluiu que gerentes do sexo feminino com idades entre 20 e 30 anos estão ganhando 2,1% a mais do que seus colegas do sexo masculino.

'Masculinismo'

Por tudo isso, ganha peso o argumento, entre alguns homens, de que eles precisam criar suas próprias estruturas de apoio.

A ONG The Men's Network (A Rede dos Homens), com sede na cidade inglesa de Brighton, tem como objetivo ajudar "todos os homens e meninos da nossa cidade a realizar ao máximo o seu potencial".

A campanha Movember, por exemplo, propõe que homens deixem a barba crescer durante um mês. Os idealizadores do movimento querem chamar a atenção para o fato de que doenças que afetam os homens, como cânceres da próstata e do testículo, não são levadas tão a sério como as que afetam mulheres.

Alguns argumentam que é hora de os homens criarem o equivalente masculino ao feminismo: o 'masculinismo'.

O fundador da International Association of Masculinists (Associação Internacional dos Masculinistas), o americano Aoirthoir An Broc, disse que há milhares de ativistas homens lutando contra as leis de divórcio indianas, que eles consideram desiguais.

"Desde o surgimento da pílula, as mulheres vêm ouvindo que podem e devem ter orgasmos. E porque não estão tendo, dizem que a culpa é do homem."
Tom Martin, ativista britânico

An Broc, um designer gráfico especializado em websites que vive em Cleveland, nos Estados Unidos, disse ter planos de fundar o primeiro abrigo para homens vítimas de violência doméstica no país.

Ele disse que existe uma presuposição de que as mulheres são sempre inocentes e de que os homens são sempre os agressores. Como resposta, ele criou o slogan "Todos os homens são bons" para combater a percepção negativa.

"Nós dizemos que todos os homens são homens, todos os homens são bons, todos os homens merecem amor e respeito independentemente de sua raça, sexualidade, religião. Não acreditamos em definições culturais dos homens", afirma.

Algumas das preocupações dos militantes pelos direitos dos homens são semelhantes às de militantes mulheres: a questão da imagem do corpo masculino é uma delas.

Eles dizem também que, enquanto o feminismo combate a discriminação contra as mulheres, conceitos ultrapassados em relação aos homens não são questionados.

O caso do ativista Tom Martin chamou a atenção da imprensa na Grã-Bretanha no ano passado após ele ter processado o Departamento de Estudos de Gênero da London School of Economics por discriminação sexual.

Ele diz que tornou-se um defensor radical dos direitos dos homens quando trabalhava em uma casa noturna no bairro boêmio do Soho, em Londres. "Eu via que os fregueses homens sofriam abusos o tempo todo."

Martin conta que os homens tinham de fazer fila e pagar para entrar enquanto as mulheres entravam de graça. Eles eram maltratados pelos seguranças, mas mulheres eram tratadas com respeito. Mas o pior, na opinião dele, é que as mulheres usavam os homens, convencendo-os a pagar bebidas para elas.

No centro disso tudo, diz Martin, está o sexo. "Desde o surgimento da pílula, as mulheres vêm ouvindo que podem e devem ter orgasmos. E porque não estão tendo, dizem que a culpa é do homem."

Martin conclui que "cabe às mulheres sua satisfação sexual, isso não é responsabilidade do homem".

O psicólogo e escritor Oliver James, ex-consultor do Ministério do Interior britânico, acha que os homens estão se sentindo "ameaçados sexualmente".

Para ele, as mulheres hoje em dia não têm inibições em expressar suas expectativas sexuais em relação ao parceiro. E não hesitam em avaliar a performance sexual do homem em público.

Debate Antigo

Já as feministas, por sua vez, dizem que o movimento pelos direitos dos homens não traz novidades. "É o velho argumento de que o feminismo foi longe demais", diz a colunista do jornal britânico The Guardian, Suzanne Moore.

As discrepâncias salariais entre os sexos e o fato de que homens ainda dominam postos de liderança na vida pública mostram onde está a discriminação real, segundo ela.

Moore reconhece que há problemas na forma como meninos são educados mas diz que não se pode fazer "generalizações afirmando que todos os homens sofrem discriminação".

Kat Banyard, autora do livro The Equality Illusion (A Ilusão da Igualdade, em tradução livre), diz que os homens se enganam ao temer o feminismo quando, na verdade, o movimento oferece a eles a possibilidade de se libertarem dos conceitos ultrapassados de masculinidade.

Argumentar que os homens agora são vítimas da luta entre os gêneros é absurdo, ela diz. "Durante milhares de anos, mulheres foram subjugadas como cidadãs de segunda classe. Começamos a mudar isso nos últimos dois séculos e ainda temos um longo caminho a percorrer. Os militantes (pelos direitos) dos homens estão negando a História".

Os defensores dos direitos dos homens têm dificuldade em mudar sua imagem "mal humorada", argumenta o radialista Tim Samuels, que apresenta o programa Men's Hour (Hora do Homem, em tradução livre) na BBC Radio 5 Live.

Samuels diz que a maioria dos homens não se vê como parte de um movimento.

"O movimento dos homens tende a ser reduzido a alguns sujeitos escalando prédios vestidos de super-homem enquanto ao das mulheres é dada credibilidade."

Disponível em <http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/05/120503_militantes_direitos_homens_mv.shtml>. Acesso em 02 jun 2012.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Gênero, sexualidade e poder

Berenice Alves de Melo Bento
Universidade de Brasília
Revista Múltipla, Brasília, 6(10): 79 – 99, junho – 2001



Resumo: Este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa com homens e mulheres pertencentes à camada média urbana de Brasília. Seu objetivo é verificar como o poder é pensado nas relações ditas igualitárias. Embora tal ideologia esteja presente nas falas dos entrevistados como “a certa”, notou-se que a ideologia hierárquica também atua na subjetividade desses atores, provocando conflitos e disputas pautadas por constantes negociações e contradições. Notou-se que, quando se está negociando a administração do doméstico, há um espaço maior para negociação, o mesmo não ocorrendo quando se trata da sexualidade. Em tais condições, denominou-se essas relações como “contraditórias”.