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sábado, 1 de março de 2014

A homossexualidade na TV como um retrato da cidade: estudo comparado entre as representações do novo gay no Rio de Janeiro e em Los Angeles

Alessandro Paciello de Castro Bezerra
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
XXXV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Fortaleza, CE – 3 a 7/9/2012

Resumo: O artigo aqui exposto pretende analisar duas obras de ficção televisiva – a série de TV estadunidense Brothers & Sisters e a telenovela brasileira Fina Estampa –, tendo como foco principal os personagens homossexuais representados nessas obras e os temas que marcam seu desenvolvimento nas tramas. A partir dessa análise, a pesquisa fará um estudo comparado entre as duas cidades produtoras das histórias – Rio de Janeiro e Los Angeles –, procurando mapear até que ponto a ficção atua como um espelho da realidade homossexual contemporânea.



sexta-feira, 23 de agosto de 2013

A devassa das fronteiras da intimidade

Yves de La Taille

Enquanto no mundo acontecem coisas diversas, das mais belas e das mais trágicas, uma ou duas dezenas de pessoas se entregam a uma atividade no mínimo estranha: permanecer trancafiadas numa casa, sem contato com o resto do planeta, mas sob a vigilância ininterrupta de várias câmeras de televisão que transmitem ao vivo tudo o que fazem e dizem a milhões de pessoas que também se entregam ao passatempo não menos estranho de assistirem cotidianamente a essa extravagante convivência. E estou, é claro, falando da versão brasileira dos reality shows, como o famoso Big Brother Brasil (BBB), que em 2011 recebe sua 11ª edição.

Um dos atributos essenciais de um ser humano livre é justamente o de ter controle do acesso de outros a áreas de sua pessoa

Esse programa televisivo pode ser analisado e criticado por vários aspectos, a começar pelo próprio nome retirado do célebre e sério romance de George Orwell, 1984: é triste verificar que um nome criado para alertar sobre perigos totalitários seja reduzido a mero título de uma "diversão" de gosto duvidoso. Pode-se também associar o BBB ao erotismo sem sensualidade que tem invadido a nossa cultura. E, entre outros aspectos, podemos simplesmente pensar, com Fernando Veríssimo, que "chega a ser difícil encontrar as palavras adequadas para qualificar tamanho atentado à nossa modesta inteligência".

Porém, há outro "atentado", comum em nossas vidas, que programas como BBB e similares colocam em primeiro plano: o atentado à privacidade.

Define-se privacidade como "controle seletivo do acesso ao eu". Ou seja, a privacidade equivale a selecionar quais aspectos, corporais ou mentais, da pessoa serão revelados, ou não, a terceiros. Por exemplo, usamos roupas para que pessoas não possam ver partes de nosso corpo, mas, perante algumas, aceitamos ficar nus. Outro exemplo: há pensamentos e sentimentos que escondemos de alguns, mas que confiamos a outros.

Isto posto, um dos atributos essenciais de um ser humano livre é justamente o de ter controle do acesso de outros a áreas de sua pessoa. É por essa razão que Orwell criou o terrível Big Brother como símbolo de um estado totalitário que chega a privar os seus membros do último reduto de sua liberdade: o controle sobre a sua intimidade.

Ficaria ele espantado em saber que pessoas resolvem livremente colocar-se em situação semelhante à do pesadelo descrito no seu romance? É provável que sim, uma vez que ele viveu no começo do século XX e, logo, não presenciou alguns fatos posteriores que tenderiam paulatinamente a "naturalizar" a constante exibição de si mesmo e o decorrente abandono do controle da privacidade. E escreveu Paulo José da Costa Junior, da área de Direito, em seu livro O direito de estar só: "processo de corrosão das fronteiras da intimidade, o devassamento da vida privada, tornou-se mais agudo e inquietante com o advento das novas tecnologias."¹ O livro foi publicado em 1970 e de lá para cá tal devassamento somente tem aumentado: câmeras em todos os cantos; controles minuciosos em entradas de prédios e condomínios; scanners cada vez mais sofisticados, que literalmente despem as pessoas nos aeroportos; exames de DNA; celulares que nos tornam acháveis a qualquer hora e que nos filmam à nossa revelia; enquetes sobre nossos gostos pessoais, em processos de seleção em empresas, etc. O lema atual é essa cínica frase: Sorria, você está sendo filmado.

E o mais inquietante é que muitas pessoas sorriem mesmo! E isto porque não raras são aquelas que associam a exibição de si mesmas ao usufruto de uma "vida boa". Porém, é ledo engano pensar que tal abandono, forçado ou voluntário, das fronteiras da intimidade é benéfico para as pessoas e para a sociedade na qual vivem. Do ponto de vista do equilíbrio psicológico, é verdadeiro o alerta de Grinover: "Se cada um de nós tivesse de viver sempre sob as luzes da publicidade, acabaríamos todos perdendo as mais genuínas características de nossa personalidade."² A autora dessa frase é da área de Direito, mas encontra respaldo na Psicologia. Em minhas pesquisas, por exemplo, verifiquei que não somente a capacidade de ter segredos é precoce (por volta dos 4 anos de idade) como corresponde a uma necessidade das crianças para protegerem a construção de suas identidades³. Ora, para os adultos, vale o mesmo. A Nouvelle Revue de Psychanalyse publicou em 1976 todo um número dedicado ao tema do falar de si, à sua importância para os seres humanos e aos limites que devem ser respeitados. Nele, Piera Castoriadis-Aulagnier chega a defender o "direito ao segredo" .

Mas não é somente do ponto de vista pessoal que a falta de fronteiras da intimidade causa prejuízos. Em seu clássico livro sobre as tiranias da intimidade, Richard Sennett observa que, hoje, as pessoas acreditam que não devem se relacionar desempenhando papéis sociais, mas sim sendo "espontâneas", revelando tudo o que pensam e sentem. Ora, para ele "mais as pessoas são íntimas, mais as suas relações se tornam dolorosas, fratricidas e antissociais. " Não terá ele razão?

Então, embora não o saibam e nem o queiram saber, são de certa forma felizardos aqueles eliminados o mais cedo possível no paredão da todo-poderosa opinião pública...

Referências 
1. Costa Junior,P.,J.(1970).O direito de estar só. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais
2. Grinover, A. P. (1976). Liberdades públicas. São Paulo: Saraiva.
3. La Taille, Y. de (1996). A gênese da noção de segredo na criança. Psicologia: Teoria e Pesquisa, vol. 12, n. 3 pp. 245-251.
4. Castoriadis- Aulagnier, P. (1976). Le doit au secret. Nouvelle Revue de Psychanalyse, n. 14, pp. 141-158.
5. Sennett, R. (1979). Les tyrannies de l'intimité. Paris: Seuil.


Disponível em http://portalcienciaevida.uol.com.br/esps/Edicoes/64/artigo213106-1.asp. Acesso em 15 ago 2013.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Atriz fala sobre transexualidade e preconceito: “o mundo não sabe lidar com o que é diferente”

Andréa Martinelli, do R7
Publicado em 17/11/2011 às 06h00 :: atualizado em 17/11/2011 às 20h09

Entre ameaças e chantagens, finalmente o grande segredo de Augusta foi revelado a todos os telespectadores no capítulo da última quarta-feira (17). A personagem da atriz Denise Del Vecchio, em um momento delicado, tomou uma decisão que mudou sua vida para sempre. Augusta é transexual e vive, até hoje, com uma falsa identidade. Em conversa com o site oficial da novela, a atriz contou detalhes sobre o futuro de sua personagem e revelou, inclusive, que Regina não para por aí: provavelmente tentará matá-la no hospital. Leia a entrevista completa:

R7 - Como foi saber, e interpretar uma personagem que trata de um assunto tão delicado como a questão da transexualidade na novela?
Denise Del Vecchio - Me deixa tensa, me deixa nervosa porque é muita responsabilidade fazer uma personagem com um problema que tantas pessoas enfrentam. Por outro lado, eu fico honrada porque a autora e o diretor confiaram em mim. Soube dois meses depois que a novela estava no ar e foi um “baita” [sic] susto. A primeira coisa que eu pensei foi: “eu sou muito feminina para fazer um homem”. Mas, quando comecei a estudar a questão da transexualidade, entendi que ela é sim, uma mulher; mas com uma genitália diferente.

R7 - A cena em que o segredo é descoberto foi muito forte, principalmente pela presença de Raimundo no momento, filho de Augusta. Ao gravá-la, como você se sentiu?
Del Vecchio - Não era propriamente a questão da transexualidade da personagem, mas a questão da rejeição do filho. A cena foi focada em cima desta dor. Ele é a coisa mais importante da vida da Augusta. Ela assume o gênero feminino quando ela opta por ser mãe do Raimundo, que vai nascer filho da Adalgisa. Para chegar nesse nível emocional dentro da cena foi bastante desgastante tanto para mim, quanto para o Rômulo [Arantes Neto, que interpreta Raimundo, filho de sua personagem]. Eu centrei a cena na questão do preconceito, que foi o que falou mais alto do que o amor. Foi tanto, a ponto do coração dela [Augusta] não aguentar.

R7 - Além da rejeição do Raimundo, como será a reação das outras pessoas quando souberem?
Del Vecchio - Eu fico muito triste quando eu leio os capítulos porque, na verdade, a Augusta não mudou em nada, só que agora que as pessoas sabem que ela tem uma genitália diferente, agem com raiva, com preconceito. As reações da Turma do Bolão e dos outros amigos serão diversas. O mundo não sabe lidar com o que é diferente, existe muito preconceito em cima daquilo que sai, nem que seja um pouquinho, fora da chamada “normalidade”.

R7 - Diante de todas essas mudanças que vão acontecer na vida da personagem, o que você pode adiantar sobre os próximos capítulos?
Del Vecchio - Eu não tenho muita coisa sobre o que vai acontecer. Mas o Raimundo vai se recusar a visitar a mãe no hospital. Ele vai querer ficar com tudo o que é da Augusta: o dinheiro do prêmio, a confeitaria, tudo. E até interditar a mãe como doente mental. É muito triste. E, ainda, a Regina está com muita raiva -afinal, a Augusta tentou enforcá-la também- e vai tentar matá-la no hospital. Agora o grande foco dela [Regina] é fazer com que a segunda parte do prêmio de todos fique com o Francisco.


Disponível em <http://entretenimento.r7.com/vidas-em-jogo/bastidores/atriz-fala-sobre-transexualidade-e-preconceito-o-mundo-nao-sabe-lidar-com-o-que-e-diferente-20111117.html>. Acesso em 24 nov 2011.